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O BRASIL SONHADO COM CIDADANIA E SEM CORRUPÇÃO

Foto: Ag.Brasil


Por Dr. Wilson Campos

Os cidadãos brasileiros há muitos anos assistem e ouvem sobre temas que relatam a respeito da importância da cidadania. Já em sentido contrário, também assistem e ouvem sobre escândalos de corrupção ativa e passiva e o mal que causam ao país. E foi a partir daí que vimos surgir o Brasil sonhado com cidadania e sem corrupção.


A cidadania tão sonhada passou a ser entendida como um processo contínuo, uma construção coletiva que visa a realização das prerrogativas fundamentais do indivíduo. A cidadania tornou-se um sonho de conquista diária. Não há como compreender o conceito de cidadania sem considerar seus vários aspectos, seja pelo respeito aos direitos humanos, pelo estabelecimento da liberdade e da democracia ou pelo exercício pleno da soberania popular.


Colocar o bem comum em primeiro lugar e atuar sempre que possível para promovê-lo é dever de todo cidadão responsável. E não me venham com desculpas de que nem sempre é possível exercitar o bem comum, uma vez que entre pensar em si e na coletividade, opte sempre pelo coletivo, notadamente mais aprazível do que optar pelo individual.


Cidadania implica vivermos em sociedade, na construção de relações, na mudança de mentalidade, no respeito e na reivindicação dos direitos, mas também no cumprimento dos deveres. Isto não se aprende com teorias, mas na luta diária, nos exemplos e principalmente com a educação de qualidade, grande propulsora para que o indivíduo possa desenvolver suas potencialidades e se conscientizar de seu papel social que pode e deve fazer a diferença na construção de uma sociedade mais justa, livre, igual e solidária.


Os direitos e deveres civis, políticos e sociais, estabelecidos na Constituição da República, quando exercidos com efetividade, representam o conceito estrito de cidadania, principalmente se destinados para a dignidade da pessoa humana, para a defesa da vida, para os interesses difusos e coletivos e para a satisfação íntegra e ética das garantias constitucionais. O resumo é um país melhor para todos.


Mas existe o outro lado da moeda. O Brasil sonhado com cidadania não concilia com corrupção. O cordeiro não é amigo do lobo. O homem bom não é fraterno do homem mau.


O cidadão do bem não anda o mesmo caminho do indivíduo corrupto. Cordeiros e homens bons não se misturam a lobos e homens maus. Ou, no mínimo, não deveriam.


O filósofo inglês Thomas Hobbes tornou célebre a frase “o homem é o lobo do homem”. Se, no século XVII, essa curta sequência de palavras já causava calafrios, imagine agora, com a cidadania sendo ameaçada a todo o momento, sem chances de o cidadão se safar desta ou daquela situação de medo, porquanto as pessoas estejam mais violentas nas ruas, nas praias, nos campos de futebol, nos espaços de shows e eventos e até mesmo dentro de casa.


A frase do filósofo usa uma linguagem metafórica, isto é, faz uma comparação com o comportamento animal para ilustrar aquilo que ele acredita ser a conduta do ser humano de modo geral – o homem é o lobo do homem.


Razão parece que existe, pois, explorador por essência e aproveitador dos mais fracos, o homem teria por instinto o impulso de usurpar o que é do outro, colocando-se acima dos demais e tendo como prioridade o bem-estar individual em vez do coletivo. Daí chegar-se a conceber que o homem pode ser o maior inimigo do próprio homem.


A afirmação de Hobbes soa como uma bofetada no rosto da humanidade, que no dia a dia vê indivíduos se transformando em seres irracionais, desagregadores de famílias, carrascos de crianças, jovens e adultos, covardes violentadores de mulheres, corruptos e corruptores e criminosos contumazes. Aliás, o homem corrupto é o lobo do homem cidadão. E se o homem mau e corrupto é capaz de grandes atrocidades e barbaridades contra elementos da sua própria espécie, não é ele outra coisa senão a confirmação de que o homem é o lobo do homem.


A vida, pensada assim, de civilizada não tem nada. Os crimes hediondos, os homicídios, os feminicídios, a pedofilia, os assaltos, os desvios de dinheiro público, a corrupção, o peculato e a concussão, não são outra coisa senão a confirmação de que o homem é o lobo do homem.


No campo fértil da corrupção, do peculato e da concussão, os bandidos proliferam, se multiplicam, não denotam vergonha nem temor, sabedores da inércia da sociedade ou da frágil punição. São criaturas acostumadas com saques, achincalhes e enriquecimento ilícito, que se utilizam de todos os meios para atingir seus sórdidos objetivos.


Homens avessos à cidadania e corruptos por natureza são seres aéticos e imorais, voltados exclusivamente para a excelência material dos seus ricos feudos, forjados na desgraça de um povo que nasce pobre e permanece pobre, haja vista as intransponíveis barreiras sociais impostas. Mas não culpem apenas os governos, pois a sociedade é também responsável por grande parte dessa culpa. E o que é isso? É o homem sendo o lobo do próprio homem.


Na saúde, na educação e na segurança somos aprendizes de civilização. Não temos grandes exemplos de respeito à dignidade humana nem de entrega efetiva de cidadania ou de direitos fundamentais. Somos apenas cabrestantes puxados por rédeas curtas, pobres coitados, de cócoras e com o queixo fincado nos joelhos.


Os rios, os animais, as matas e as pessoas indefesas são as grandes vítimas da atualidade, graças à ganância do homem mau, corrupto e travestido de lobo, sempre em busca de riqueza, notoriedade e poder. O meio ambiente exaurido respira com dificuldade, tamanha a poluição do seu todo natural.

O recado do colapso ambiental não encontra intérpretes inteligentes. A exploração insana arrasa com a Terra, que, não suportando tanta pressão, rompe e leva consigo a lama e tudo que encontra pelo caminho. Restam a agressão, a tragédia, a calamidade, o choro e a morte de bons cidadãos.


O Brasil sonhado com cidadania e sem corrupção é a meta dos brasileiros do bem. Portanto, a cidadania requer coragem e atitude. As ameaças contra a cidadania se dão por fraqueza do cidadão, que não se indigna com tantos crimes contra a pessoa, contra a vida, contra a honra e contra o dinheiro público. Eu, particularmente, quero um Brasil com cidadania e sem corrupção, e vou lutar para vencer o homem lobo, o homem corrupto. Daí a minha defesa de que o povo brasileiro precisa viver em conjunto em uma sociedade cidadã, regida pela ética, pela honestidade, pela honradez e pela indispensável cidadania, com regras e normas eficientes e eficazes.


Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).


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